quinta-feira, 14 de junho de 2007

O primeiro texto de projeto May 6, '07 7:58 PM

Que bom... Posso adicionar arquivos. Ai está um texto interessante (Bárbara, qualquer semelhança não é mera coincidencia). Era para ser um texto que explorasse a estranheza (sentimento de estranheza, identificação, horror, pânico, medo) em Edgar Alan Poe (um trabalho para o projeto de litertura)
Quem se interessar pelo texto (ou não) procure se informar sobre Fobos e Deimos. Uma vez que saibam um pouco sobre essas duas personagens releiam o texto. Vai agradar a quem entender as pequenas menções incrustradas entre essas linhas.
Novamente perdoem a paranóia


TEXTO SOBRE A ESTRANHEZA EM EDGAR ALLAN POE

Os filhos de Vênus

- Shiii... Pronto. Agora podemos conversar. Deve se perguntar porque estou aqui não? Eu sei que você sabe porque estou aqui, porque fui atrás de você.

Eu não me conformo como você me enganou por tanto tempo, como deixei que isso se alongasse por tanto tempo. Mas agora está feito. Como descobri você me pergunta? Não foi difícil. Todos sabiam, todos, eu apenas descobri aos poucos.

Realmente eu agradeço muito a minha amiga Éris. Ela me fez perceber o que estava acontecendo. Você dizia que estava trabalhando, que estava atarefada, que não tinha tempo para me ver. Como eu a amava. Era tão tolo e não percebia o que me acontecia.

Você passou muito tempo com esse “trabalho”. Comecei a me sentir estranho, não sabia o que era. Estava definitivamente abatido, chateado, acho que no fundo eu sabia.

Ainda assim apenas deixava para amanha, amanha e amanha. Conformava-me com algumas poucas horas em alguns poucos dias da semana. Nada mais. Só aquilo.

Agradeço a Éris, sem ela ainda estaria sendo enganado. Ela me dizia:

“É muito estranho ela trabalhar assim, não há motivos” ou então “Se ela gostasse mesmo de você faria algo“. E eu, grande tolo, te defendia afirmando que não fazia sentido você querer me enganar, que você precisava executar o seu trabalho, entre outros diversos motivos.

Mais tarde eu desejei que ela tivesse gritado comigo, que ela afirmasse veementemente que havia algo errado, mas não, concordou comigo e deixou todas as dúvidas criarem suas raízes em mim. Sim, me arrependi depois, mas agora agradeço imensamente.

Não acreditei nela na hora. Mantive-me atento a mentiras. Me mantive acreditando na mais pura das damas.

As palavras de minha amiga com o tempo começaram a me incomodar, mas sem pensar nelas decidi te fazer uma visita. O momento em que o mundo começa a se abrir para mim. O momento em que eu vejo a face descarnada da realidade.

Você não estava em casa no dia. Havia saído. “Para onde?” me perguntei. “Para onde?” perguntei para um cara que passava. Ele respondeu que não sabia, disse exatamente que não havia visto “aquela bela morena da casa 273”. Ele se assustou ao saber quem eu era, não pediu desculpas, apenas falou que eu era um “cara de sorte”.

Sai da frente às pressas. Achei que foi porque sentia que eu ia dar um soco naquele desbocado, minha ilusão.

Conforme eu ia caminhando os pensamentos tomavam conta de mim. Sem me dar conta eu andava cada vez mais rápido e mais rápido. Era como se eu estivesse em plena guerra... sim, isso... não havia pensado nisso antes mas é a plena guerra. Corria como se as ruas fossem perigosas, como se me deixassem vulnerável, queria chegar ao meu abrigo, a minha casa, ao lugar onde a realidade não existia e a vida mostrava sua face tenra.

Medo, tudo pelo que passei podia ser definido nessa palavra, medo. Nunca tinha pensado no que os outros homens pensavam de você. Nunca te coloquei em dúvida. Grande tolo não é mesmo?

Fiquei alguns dias trancado, com medo, pensando. Não queria sair de minha casa e desse mundo cálido.

“Como posso ser tão tolo? Me esconder como um covarde. Nada disso é verdade! Tenho que vê-la”. Essas foram às palavras que proferi no dia derradeiro. O dia da verdade. O dia em que encontrei seu amado

“Como eu poderia saber” você deve estar se perguntando... bom... não sei, mas é ele, nisso não há dúvida.

Estava caminhando até a sua casa, estava disposto a resolver tudo isso de uma vez. Apenas queria entender seus motivos ou dar um basta a esse descaso, porém parece que a vida gosta de mim, ela não me deixaria viver enganado por todo o sempre.

Eu o encontrei atravessando a rua. Banalidade não? Era muito parecido com o cara que eu tinha encontrado há uns dias. Tinha cabelos longos e lisos de um castanho muito claro, era forte e trajava uma camiseta sem mangas. Usava shorts muito esquisitos, o tipo de coisa que você sabe que eu nunca usaria mas que insistia em dizer que gostava e que eu ficaria bem com isso. Era ele.

Tenho certeza que ainda não estás entendendo. Como eu teria acertado? Será que alguém me contou? Quem foi? Será que eu vi vocês dois juntos? Não para tudo minha cara, como eu disse, apenas o encontrei atravessando a rua.

Eu estava pensativo, olhava para frente imaginando o nosso encontro quando, do lado oposto da rua, ele estava lá. Meus olhos recaíram sobre os dele. Ele me fitava descontraído, pomposo, como se soubesse que eu não tinha chance. Na hora nada suspeitei. Mudei o olhar, porém a curiosidade fez com que eu voltasse a fitá-lo. Ele ainda me olhava, debochado, zombeteiro, era ele o campeão, sempre fora, eu estava derrotado. Aqueles olhos, olhos escuros e penetrantes que me analisavam, me dissecavam e que alimentavam o medo que havia em mim como a palha seca nutre as chamas.

De repente os olhos começaram a se aproximar, uma expressão estranha tomou conta do rosto do maldito. Ele se aproximava mais e mais e embora eu não goste de admitir comecei a recuar quando ele estava a alguns passos de distancia, mas ele continuava andando.Se aproximava como toda uma horda de cavaleiros que, certos da vitória, marcham despreocupados até o inimigo.

Recuei, recuei até que não pude me conter. Me virei e me pus a correr o mais depressa possível derrubando diversas pessoas em meu caminho.

Voltei para casa, porem o lugar que antes me era um idílio estava tão descarnado quanto a realidade de fora. De fato o horror me acompanhou até em casa derrubando as minhas muralhas e me impondo seus grilhões. Assim foi por dois dias, não comi, não sai e sempre que precisava realmente fazer algo o fazia andando curvado e o mais discreto possível.

Mas como disse foram dois dias, hoje minha cabeça se revirou, não podia permitir que eu continuasse assim, agradeço meu Homero que caiu em minha frente quando trombei na estante. Aquele bendito livro lembrou-me que aqueles acometidos pela dúvida pereciam, só os bravos atingiam a glória.

Agora que extingui a fonte do medo e do horror. Agora que extingui esse amor posso me concentrar em um único detalhe. Vou atrás de seu amado. Em breve vocês se verão. Me espere em seguida pois quero garantir a vocês o tormento que merecem

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